Comboio larga noivas na cidade

Rodagem de filme surpreende centenas de passageiros.

INÊS SCHRECK

Mal as portas do comboio se abrem, na estação de Valongo, entram 17 noivas de rompante. Atrás delas, um batalhão de fotógrafos e operadores de câmaras. Os passageiros, boquiabertos, espreitam, mas mantêm-se à distância, para não serem abordados. As noivas cantam, riem alto, agarram-se aos varões, quais bailarinas, e posam para as fotografias.

"Ó menina, é mesmo um casamento?", pergunta uma mulher, na chegada a S. Bento.

Não. É um filme promovido pela Companhia de Teatro e Promoção Cultural "Cabeças no Ar e Pés na Terra". A mancha de vestidos brancos ia crescendo à medida que se movimentavam. Em S. Bento já eram 40, para o final do dia esperavam-se 150. E o pequeno aglomerado que as rodeava, depressa passou a multidão. Ninguém queria perder "a mais linda, a mais jeitosa", a noiva de preto e a de cor-de-rosa.

O desfile de noivas, captado ontem em Valongo e no Porto, fará parte do filme "Medo de sentir", a apresentar em Espanha em Abril e Maio e em Portugal em Novembro e Dezembro.

Marta Ferreira, autora do projecto, quis mostrar que toda a gente sente medo. "Há quem tenha medo de ser feliz, há quem tenha medo de ser abandonada, há quem tenha medo de que o marido seja infiel". A história começa pelo fim, com o "grito de guerra" das noivas que naquele momento percebem que todas sentem o mesmo, por mais diferentes que sejam. O recrutamento foi feito de forma informal, com a ajuda das redes sociais e os vestidos emprestados por uma estilista. "Temos mulheres casadas, divorciadas e solteiras, mulheres que vão casar, outras que nem pensam nisso", continua. Micaela Stuart, 25 anos, enquadra-se nestas últimas. "Nem sequer tenho idade para pensar em casar", sorri. Nunca se tinha vestido de noiva, mas nem hesitou quando a convidaram. "Se calhar nunca mais me vou vestir assim", ri-se.

http://jn.sapo.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Porto&Concelho=Porto&Option=Interior&content_id=1482960